Aqui e agora na terapia

31 março, 2015

A Psicologia de um modo geral, parte da Psicanálise a das Psicoterapias Psicodinâmicas, pouca atenção deram à premente necessidade de prestar atenção à importância do momento presente ao lidar com as estruturas subjetivas da mente, bem como ao que ocorria no "aqui e agora" da relação diádica. 

As técnicas que se baseiam a NeuroPsicoterapia Afetivo Relacional são fundamentadas na perspectiva do aqui e agora, na avaliação do material clinico momento-a-momento, pois tudo o que vivenciamos, pensamos, sentimos ou mesmo intuímos, pode ser revivido no momento presente através da relação terapêutica. Por aqui e agora se subentende estar no momento presente na sessão, tanto paciente quanto terapeuta, vivenciando e iluminando recantos escondidos ou pouco visitados. Dessa maneira, a díade vivencia o momento presente examinando a relação terapêutica, o laço e o sentimento que os permeiam, que os une e que os acompanham momento a momento da relação. 

O espaço terapêutico, sendo um lugar seguro e acolhedor, funciona como um lugar onde o exame do que acontece na díade pode ajudar o paciente a examinar o que ocorre em suas outras relações com total liberdade e interesse. Este exame detalhado e focado no momento presente confere veracidade e presentificidade à relação. Coloca exatidão no que foi vivido e sentido ao longo da vida do paciente, na medida em que acreditamos ser a vivência da díade no presente um retrato fidedigno de todas as outras vivências anteriores, e de todas relações anteriores. Todos os obstáculos traumáticos ou não, assim como todos os problemas interacionais, revelam-se no desdobramento do aqui e agora, no exercício da relação da díade terapêutica, tornando-se fundamental como um alicerce para um maior engajamento, para uma maior intimidade e proximidade. 

O terapeuta compromete-se com sua presença não apenas física, porém próxima e participativa, trazendo as transferências do paciente e colocando-as à prova, testando-as antes de vivencia-las longe do setting terapêutico. E nisso, a distância e o não contato, ou o contato realizado com parcimônia, cedem lugar a um laboratório de vivências tanto passadas quanto atuais, vividas no presente e sendo aceleradas à enorme carga de emoções vivenciadas e reatualizadas, que nada mais é do que o aqui e agora em ação. Ao lidar com o aqui e agora, o momento presente torna-se um instrumento eficaz da experiência fenomenal do sujeito. Sua importância fica evidenciada no poder de provocar mudanças no aqui e agora, existindo tanto na mente consciente do terapeuta quanto do paciente, através de um contato mutuamente presente. Sendo assim, a mudança terapêutica através de uma significativa experiência relacional, fundamenta-se no aqui e agora. 

A mudança tanto no nível comportamental quanto no nível mais profundo de figuras passadas internalizadas dentro do paciente, não ocorre principalmente por meio de insight e de interpretações, mas por meio de significativas experiências relacionais, do paciente com o terapeuta, no aqui e agora da sessão terapêutica. Assim, é possível que os pacientes possam expressar com mais intensidade suas emoções, lembrar-se de experiências mais significativas que foram formativas em suas vidas, além de demonstrarem evidências de maior coragem e um sentido de self maior. Paciente e terapeuta vivendo no aqui e agora da relação, desenvolvem fortes sentimentos que se tornam o discurso principal, onde os eventos imediatos vividos no setting, assumem precedência sobre os eventos da vida atual do paciente, bem como do seu passado distante. Esse foco sendo colocado no aqui e agora faz com que tais momentos vividos durante a sessão, tornem-se um microcosmo que espelha o grande macro que é o mundo do paciente vivido fora do contexto terapêutico. Muitos outros processos evidenciam-se e se aceleram, tais como: o feedback, a catarse, a auto revelação por parte do paciente, formando um ciclo auto reflexivo onde é examinado a partir de um comportamento que acaba de ocorrer na díade terapêutica. 

A imersão no aqui e agora faz com que a experiência da díade torne-se intensa, onde terapeuta e paciente vivem um envolvimento muito rico de trocas, de profundidade por conta de revivências fortes de histórias traumáticas e solitárias, que agora são vividas a dois, de maneira curativa. O foco passa a ser considerado de fora para dentro, do abstrato para o especifico, do genérico para o pessoal e do pessoal para o interpessoal, proporcionando a vivência de um contexto terapêutico mais real, onde ambos lidam com dados mais exatos, ao invés de somente vivências e fantasias do passado do paciente. A sessão terapêutica ganha uma coloração real, favorecendo o surgimento de uma proximidade e de uma intimidade altamente favorável ao objetivo escalado. Sendo assim, o paciente sente-se mais desarmado, com mais liberdade de se colocar sem tantos medos, tornando a sessão terapêutica um lugar onde pode experimentar novos comportamentos antes mesmo de vivenciá-los fora da sessão. 

Neste contexto, o que é vivido pela díade durante a sessão terapêutica passa a ser um microcosmo do que foi e é vivido fora do setting, onde suas dificuldades relacionais são vividas prontamente na interação com o terapeuta e resolvidos ali, na medida em que a relação vai se desdobrando.
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