A empatia na atividade terapêutica

26 março, 2015

A empatia é tida como a mola mestra essencial para o eficaz trabalho terapêutico, sendo que uma das mais surpreendentes formas para o estabelecimento de vinculação da díade se situa na capacidade do terapeuta desenvolver o sentimento de empatia com o paciente, bem como ensiná-lo a experimentar tal sentimento com seus pares.

É comum ouvirmos relatos transparentes acerca das dificuldades relativas à pouca habilidade de nossos pacientes em formar vínculos afetivos no decorrer de suas vidas. Tal dificuldade situa-se na inexperiência, tantas vezes por total falta de vivências, que podem ser traduzidas em nunca terem tido quem realmente se preocupassem com eles ou mesmo quem, ao longo de suas vidas, se interessassem em olhar o mundo com seus olhos e sentimentos.

É tarefa do terapeuta tentar uma real aproximação com o paciente, de tentar chegar perto da maneira com que este vê o mundo, de tentar sentir através de seus relatos seus sentimentos no momento em que o mesmo os vivenciou.

Na Psicoterapia Afetivo Relacional toda ênfase é dada à resposta empática do terapeuta ao paciente. Tal resposta profundamente afetiva e atuante tem um significado bastante amplo quando na revivência traumática do paciente durante as sessões. O terapeuta pode sentir, ou pelo menos tentar se aproximar ao máximo daquilo que é ouvido pelo paciente, como tudo foi percebido, como situações desastrosas e difíceis foram vividas por este outro membro da díade, sem que o mesmo tivesse condições de elaborar devido à intensa carga emocional em pauta e também devido à profunda solidão vivida até então.

Este sentir de maneira solidária por parte do terapeuta não se consuma numa experiência de apenas ouvir o que o paciente tem a dizer. É um procedimento que vai muito além das palavras e consegue vibrar no paciente numa profundidade jamais alcançada anteriormente. O paciente sente-se profundamente acolhido por sentir que o terapeuta além de ouvi-lo, é capaz de dimensionar profundamente como que determinado fato ou situação foi para ele.

O terapeuta, ao trazer para seu exercício clinico a elaboração empática da história que está ouvindo do paciente, consegue não apenas uma interação muito maior nesta vivência da díade, mas também a grande chance de poder ouvir de forma diferenciada e ampla a narrativa evocativa das experiências pelas quais o paciente passou. Tal exercício empático que demanda muito do terapeuta não só durante as sessões, mas no aqui e agora do exercício dessa relação, exige que o terapeuta esteja totalmente aberto, disponível, claro nos seus sentimentos colocados, mas, sobretudo exige um absoluto grau de sinceridade por parte do mesmo. Tal expressão de sinceridade por parte do terapeuta, que é mostrar-se um ouvinte diferenciado, com afetos, emoções e capacidade de poder chegar perto do que o outro da díade sente e pensa, é condição básica essencial para o vislumbre de uma eficácia.

O terapeuta, na vivência desta relação autêntica com o paciente, pode através de uma palavra, de um gesto, de uma expressão facial, de um pequeno contato físico ou de uma rememoração inerente ao contexto ouvido do paciente, expressar o quanto está presente naquele momento das sessões tido como únicos, mostrando ao paciente sua presença absoluta e sua real intenção de estar ali próximo e participante de tudo o que é vivido pelos dois. Todas estas reações do terapeuta que mostram sua resposta empática ao paciente, são um rico veículo de comunicação empática, assim como são as expressões de dor, raiva, tristeza, que são expostos e vividos pelo paciente.


E nesse vaivém de emoções e de expressões autênticas vivido por ambos da díade, é vivido um fluir constante de sentimentos que anteriormente o paciente não ousara compartilhar com ninguém, por não ter conseguido viver relações ao longo do seu trajeto de vida em que pudesse ser reconhecido e autenticado na sua forma de ser.
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