As vantagens de envelhecer

20 fevereiro, 2017



Certo dia, há  muitos anos atrás, fui visitar uma pessoa próxima que estava internada na Clínica São Vicente, na Gávea. E, de repente, perdida nos meus pensamentos, dei de frente com um quadro no corredor que me chamou a atenção.

O quadro era de um senhor bem velhinho, e tinha os seguintes dizeres: "De todas as tragédias que pensei que aconteceriam comigo ao longo da minha vida, nenhuma chegou a acontecer." Isto já tem uns 20 anos, e não esqueço. Sempre que passo por momentos que julgo sem saída, lembro desse quadro que vi, e que de certa maneira tornou-se muito importante para mim, no decorrer da minha vida.

Acredito que com o passar dos anos, na idade avançada, a sabedoria nos faz chegar a esta percepção, a esta conclusão tão simples, mas inaudível a mentes mais jovens. Julgo que na maturidade, o coração envelhece, mas não muda, mas a razão ameniza e neutraliza em muito nossa percepção do mundo, das situações e das pessoas ao nosso redor, fazendo com que não soframos tanto, por não nos punirmos tanto.

Há um certo relaxamento, uma certa despreocupação no nosso entorno, como se nos permitíssemos fazer, dizer ou SER o que antes nos era negado em função da pouca idade. Ser maduro, ter idade, ter maturidade, tem seus ganhos. O valioso saber acumulado ao longo dos anos pode significar finalmente a abertura do portal para a liberdade.

Para que levar tudo tão a ferro e fogo? Para que levar tudo tão a sério? De todas as possíveis tragédias que vivenciei na hora "H" , no fundo do poço, no fim do caminho, SEMPRE aparece uma luz, uma solução, uma mão que determina o fim da escuridão.  E cada vez esta verdade fica mais evidente.

Somente com o avançar da idade é que se pode ser mais livre, mais sábio, mais sereno.

Psicanalista Lílian Moura
Leia Mais ►

Do que depende a felicidade?

14 fevereiro, 2017



Ao contrário do que se diz comumente acerca da felicidade, ela parece estar associada a uma capacidade de exerce-la enquanto tal. É necessário desenvolver em si mesmo tal capacidade: a habilidade para ser feliz.

Felicidade é um conceito abstrato, é algo que está inserido dentro de nós. É um potencial a ser exercido, onde fatores externos podem ou não contribuir para sua existência e aprimoramento.

Felicidade está desvinculada ao que se tem, ou até aonde podemos lançar mão para adquirir coisas ou até mesmo poder.

Frequentemente associada ao verbo ter, em uma sociedade como a nossa, em que a busca de satisfação move milhões de homens e mulheres, a felicidade não parece atrelada a riqueza.

Riqueza pode ou não ter a ver com a felicidade, não torna uma prescindível da outra.

Não existe correlação existente entre felicidade e riqueza, muito pelo contrário, sociedades onde a riqueza, e o crescimento econômico predominam atestam que há uma nítida ambivalência entre esses dois termos.

Segundo Richard Lane, The Loss of Happiness in Market Democracies, New Haven, Yale University Press, 2000, ”... a partir de uma comparação de dados transnacionais, que embora os índices de satisfação com a vida declarados cresçam amplamente em paralelo com o nível do PNB, eles só crescem de modo significativo até o ponto em que carência e pobreza dão lugar à satisfação das necessidades essenciais, “de sobrevivência” – e param de subir, ou tendem a decrescer drasticamente, com novos incrementos em termos de riqueza.

Cai abaixo a ideia de que aumentando os ganhos financeiros de um indivíduo, o mesmo tende a ser mais feliz.

Psicanalista Lílian Moura
Leia Mais ►

As vantagens de ser tímido

06 fevereiro, 2017



Somos todos tomados por uma errônea ideia de que a timidez está fora de moda, como se nos dias atuais ser aceito significa ser extrovertido em alto grau. Fato este retratado aqui e ali como um recorte cultural, onde vemos que a extroversão coaduna com os atuais valores da sociedade de consumo que estamos inseridos atualmente.

Nos consultórios, o que vemos são pessoas em busca dessa inserção neste mundo dos extrovertidos, por se sentirem a parte, fora do contexto, diferentes e diferenciados por todos, e principalmente por eles mesmos. O culto à extroversão tornou-se uma marca a ser alcançada, marca essa que garante que todos os seus portadores podem ficar seguros quanto ao futuro de suas vidas, pois as portas hão sempre de estar abertas para o ingresso daqueles que são expansivos, comunicativos, sociáveis, e por aí vai...

O tímido não consegue deixar de cultuar aquele outro que parece aberto ao mundo, que é avido de contatos, que é confiante, que brilha e adapta-se fácil a qualquer ambiente. Estes são os maiores sonhos de consumo que o tímido tem, mas não os revela a ninguém. Mas o que o ele realmente tem que compreender, é que ser desse jeito mais introvertido, não faz parte de uma escolha. É uma característica como outra qualquer. Ou é uma maneira de ser que ele, o tímido, jamais teria optado para si mesmo.

Tendo estreito contato com ambas as características no meu consultório, visitando as inúmeras possibilidades que cada uma delas pode oferecer e ser,  percebo que os tímidos "perdem" para os extrovertidos, apenas no que diz respeito à sua pouca capacidade de leitura quanto aos seus inúmeros atributos, tanto latentes, quanto aqueles conteúdos não vistos por eles, e que gritam para serem notados e  prontamente reconhecidos e aceitos por aqueles que estão ao seu redor.

Talvez o extrovertido tenha chegado através dos atalhos, da menor resistência, do menor número de entraves, ao tão esperado reconhecimento alheio e ao auto reconhecimento. Mas o tímido precisa de mais tempo de auto escuta, que o possibilite a ver o quão seus atributos oriundos de um tempo maior de reclusão consigo mesmo, fizeram com que pudesse desenvolver uma grande intensidade interior, capaz de gerar grande potencialidade intelectual e criativa. Mas haja tempo e sofrimento até chegar a tamanha descoberta...

Sempre gostei de observar a vida, as pessoas ao meu redor, e como uma boa tímida que era, cultuava meus ídolos desgarrados, extrovertidos, para fora de si. Achava os mesmos o máximo, pois sabiam fazer e dizer coisas com uma naturalidade que me comoviam. Com o passar do tempo, meu culto à eles foi-se indo, junto com a certeza de que eu era uma tímida convicta. Observando pessoas que me adicionavam de alguma forma, que brilhavam que exalavam sabedoria e emanavam sentimentos positivos, verifiquei que na grande maioria, essas pessoas portavam a tal característica de voltar-se para dentro de si, característica essa tão absolutamente vivida pelos tímidos. Parece que a riqueza da alma e do ser se faz no silêncio. Ou é preciso lutar muito para se chegar neste lugar de quietude e de vivência interna que os tímidos já estão tão bem familiarizados.

Apesar da "ditadura da extroversão" nos dias atuais, parece que o movimento tem ido no sentido oposto, para um caminho de interiorização, de autoconhecimento, de meditação, e muitas outras práticas que visam fazer com que o indivíduo desligue a sua tomada externa, e plug sua tomada dentro de si, visando um aumento de sentimentos e uma revalidação de valores, neste mundo tão confuso, tão sem dono e sem lei.

Viva a introversão e viva os tímidos também!!!
Leia Mais ►

o que fazer para alcançar a alegria

31 janeiro, 2017



A alegria é um combustível capaz de nos fornecer força nas horas que precisamos realizar projetos e mudanças em nossas vidas.

É diferente da felicidade, pois vem de experiências distintas. Enquanto a felicidade está associada às circunstancias, a alegria está relacionada ao espírito e à imensa gratidão pelo fato de estarmos vivos. 
Nenhum desses sentimentos está presente o tempo todo. Eles tendem a aparecer e desaparecer para logo voltar a aparecer de novo.

São sentimentos muito semelhantes, mas vivencialmente podemos dizer que suas essências são tidas como opostas. 

A felicidade está mais ligada ao mundo materialista, onde o sentimento do consumo, da alegria efêmera de possuir e ostentar, são o que importa.

Para os gregos, a alegria só poderia ser encontrada no plano divino. Era algo a ser conquistada durante uma vida, uma espécie de sabedoria adquirida durante a existência. Tratavam a alegria como um sentimento que está ligado a um nível espiritual superior.

Sentimos que estamos alegres quando há uma sensação de paz, de harmonia, de liberdade, ou em outros momentos onde há uma grande satisfação interna.

Quanto maior o amor-próprio e a nossa satisfação interna, mais estamos aptos a sentir o bem estar que a alegria é capaz de nos proporcionar.

Mas há muitos obstáculos que nos impedem de vivenciar sentimentos prazerosos como a alegria. Muitas pessoas ainda não se dão conta da existência desse sentimento, ou porque não se sentem merecedoras, ou por acharem que se sentindo felizes são capazes de magoar as pessoas a sua volta. Enfim, motivos não faltam. É preciso uma boa dose de autoconhecimento para perceber onde está o fator chave que bloqueia o desencadear dessa tão linda sensação.

O caminho da alegria é sempre um caminho da harmonia interior, e por isto é necessário uma investigação interna, pois a alegria é uma criação interna que só mesmo o próprio individuo pode fazer consigo mesmo. A alegria independe do externo, independe de ganhos, de posses, de ilusões. Depende da criação individual.

O que posso fazer para alcançar a alegria?

Alcançar a alegria como já falamos depende da gente, depende de cada um. Que tal relembrar um momento feliz vivenciado por você na sua vida¿ Pode ser um momento muito distante, um momento na infância. Lembre-se com os maiores detalhes possíveis desse momento. Lembre o que fez você ficar tão alegre. Quais as sensações que mais contribuíram para que isso acontecesse. Procure lembrar o que foi dito, a expressão facial das pessoas ao seu redor, e aos pouco vá tentando trazer esta experiência para o momento presente Tente ao máximo sentir no aqui e agora o máximo possível dos estímulos que você sentiu naquele momento. Fiquem alguns minutos vibrando com essa emoção, saboreando os encantos que é poder sentir esse sentimento ímpar dentro de si. 

Quando eu tinha uns 13 anos, já era encantada e curiosa em saber mais sobre esses momentos mágicos que chamamos de alegria. Sentia que não eram muitos frequentes os êxtases provindos desse sentimento. Hoje consigo elaborar o que pensava naquela época, e agora posso escrever sobre isto. Como gostava muito de escrever, deixava as últimas folhas do meu caderninho para anotar, em breves frases, todas as vezes que acontecia um momento super. bacana comigo. E não eram raras as vezes que “precisava” ler as ultimas folhas do pequeno caderno, para ganhar uma grande força para sempre seguir em frente. Acredito que esse hábito desde cedo, de evocar e resgatar as alegrias passadas a fim de transformá-las em energia e força no presente fez de mim uma pessoa muito guerreira desde cedo.

Com isso quero dizer que cada um deve e pode buscar sua forma de criar sua forma de contatar a alegria.

Os instrumentos para isto estão ai, disponíveis para serem usados por nós, a nosso contento, só faltando darmos o passo inicial de descobrir como e onde começar a busca. Pode ser buscando entrar em contato com a natureza, pode ser fazendo mais e sempre mais o que você gosta o que te dá prazer, pode ser percebendo mais a beleza que as coisas simples podem nos dar, pode ser valorizando as coisas e as pessoas ao nosso redor, e agradecendo sempre por todos esses presentes que a vida dá, pois o HOJE é o nosso grande presente.

___

Psicanalista Lílian Moura
Experiência em atendimentos com família/casal, adolescentes e adultos.
Atendimentos pela abordagem psicanalítica.
Realiza orientação psicológica online.
Contatos:
21-981228317
21-25530855 consultório
e-mail: lilianmourapsi@gmail.com


Leia Mais ►

leveza de alma

07 março, 2016




São tantos os pequenos momentos bons da vida que acredito no mito da felicidade. 

Felicidade para mim são momentos de retorno. 
Retorno de coisas boas que geralmente vêm em forma de ternura, de querer dar ao outro esse aconchego que vem da alma pedindo passagem para vibrar em outros corações. 

É certo que a vida é dura, mas são tantos esses momentos convidativos ao prazer de poder ser quem se é, e se aceitar, e se amar, e saber que é possível fazer uma diferença na vida de outro ser.

É muito bom agradecer sempre que possível a existência da vida, tornando os momentos efêmeros em instantes com constância mais duradouras. Segurar estes instantes e lembrar com leveza d'alma que só é possível ser feliz se a conjugação do verbo dar estiver sempre presente nas nossas vidas. 

Por: Psicanalista Lílian Moura
Leia Mais ►

registros e felicidade

15 outubro, 2015




Parece que o crescimento se dá aos saltos, não o vemos no dia a dia.

E a coisa mais bonita de ser vista é essa superação, é quando ela se dá, e nos vemos mais "altos", mais fortes e capazes.

Hoje em dia não espero mais os encantos de "quero ser feliz, custe o que custar".  Aprendi ao longo da empreitada que isto não existe, que o mais importante de tudo que levamos e que temos, é sermos e termos momentos interessantes.

Momentos que chamo de momentos combustíveis, momentos únicos que fazem a a vida ter sentido e nos impulsionam para frente.

Felicidade é fugaz, não deixa registro, nem marcas. 

Momentos interessantes, sejam de que ordem forem, deixam sua marca, é um upgrade interno, identificador de que nossos registros até então exigem mais qualidade, prazer e quantidade, porque merecemos mais, e estamos cientes que a vida pode nos dar muito e muito mais a partir desta vivência.

Felicidade é etérea, fugaz. Registros são marcas definitivas e que antecedem o que está por vir.
Leia Mais ►

Os ganhos da maturidade

17 setembro, 2015




Certo dia, há  muitos anos atrás,  fui visitar uma pessoa próxima que estava internada na Clínica São Vicente, na Gávea, RJ. 
E de repente, perdida nos meus pensamentos, dei de frente com um quadro no corredor do hospital, que me chamou a atenção.

O quadro era de um senhor bem velhinho, e tinha os seguintes dizeres: "De todas as tragédias que pensei que aconteceriam comigo ao longo da minha vida, nenhuma chegou a acontecer."

Isto já tem uns 20 anos, e não esqueço. Sempre que passo perrengues, momentos que julgo sem saída, lembro desse quadro que vi, e que de certa maneira tornou-se muito importante para mim, no decorrer da minha vida.

Acredito que com o passar dos anos, na idade avançada, a sabedoria nos faz chegar a esta percepção, a esta conclusão tão simples, mas inaudível a mentes mais jovens.

Julgo que na maturidade, o coração envelhece, mas não muda, mas a razão ameniza e neutraliza em muito nossa percepção do mundo, das situações e das pessoas ao nosso redor, fazendo com que não soframos tanto, por não nos punirmos tanto.

Há um certo relaxamento, uma certa despreocupação no nosso entorno, como se nos permitíssemos fazer, dizer ou SER o que antes nos era negado em função da pouca idade.

Ser maduro, ter idade, ter maturidade tem seus ganhos. O valioso saber acumulado ao longo dos anos pode significar finalmente a abertura do portal para a liberdade.

Para que levar tudo tão a ferro e fogo? 
Para que levar tudo tão a sério?

De todas as possíveis tragédias que vivenciei na hora "h" , no fundo do poço, no fim do caminho, SEMPRE aparece uma luz, uma solução, uma mão que determina o fim da escuridão. E cada vez esta verdade fica mais evidente. Somente com o avançar da idade é que se pode ser mais livre, mais sábio, mais sereno. 
Leia Mais ►
 

Psicanálise e tudo mais © Copyright - 2012. Todos os direitos reservados. Layout criado por Gabi Layouts